Com início do período de chuva, a falta de pavimentação na MG-280, nos trechos que ligam Paula Cândido a Divinésia (14 km) e Dores do Turvo a Alto Rio Doce (26 km), volta a ser motivo de tormento para a população de pelo menos 12 municípios da Zona da Mata. Não é preciso um volume de chuva muito intenso para causar transtornos a quem depende da estrada para trabalhar, estudar ou simplesmente passear.
A luta pelo asfaltamento da rodovia é antiga e os moradores ouvem promessas dos governantes há décadas, mas desde 2015 o pleito ganhou força com a criação da “Comissão Pró-Asfalto”, movimento integrado por religiosos e civis que brigam pela pavimentação dos dois trechos. Levantamento feito pelo grupo mostra que cerca de 150 mil pessoas serão beneficiadas se o asfaltamento virar realidade.
O assunto está de volta à pauta da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) porque duas emendas ao Orçamento Geral do Estado de Minas Gerais para o ano de 2018 foram apresentadas pelo presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico, deputado Roberto Andrade (PSB). Elas somam R$ 10 milhões e objetivam criar a previsão legal para que o Governo de Minas, enfim, possa incluir o asfaltamento da rodovia em seu Plano de Obras para o ano que vem.
“Não estamos vendendo ilusões. Sabemos que a luta é difícil, sem qualquer garantia de sucesso. Mas também não podemos nos omitir, precisamos vencer o ceticismo, acreditar que esta é uma causa justa e vale a pena lutar por ela”, afirmou o deputado. Os investimentos em obras de infraestrutura do porte do asfaltamento da rodovia, necessariamente, precisam constar do Orçamento Geral do Estado para poderem ser realizadas no ano seguinte. Caso contrário, não podem ser executadas por falta de autorização legislativa e previsão orçamentária, mesmo que não estejam alocados a totalidade dos recursos para a sua realização.
“A aprovação das emendas ao orçamento, mesmo não sendo suficientes para cobrir os investimentos necessários para início e conclusão da obra, é fundamental para que o Governo de Minas possa programar a sua realização entre os investimentos que pretende fazer no ano que vem. Mas vai precisar contar com o apoio e a mobilização das populações das cidades que vão ser atendidas pela obra. É um primeiro passo que estamos dando, mas fundamental para a sua concretização”, alerta o deputado.
“As populações destes municípios estão cansadas dessa malfada novela em que se tornou o asfaltamento da MG-280 e que, tragicamente, já marcou a vida de milhares de pessoas que por ela são obrigados a transitar diariamente. No entanto, novamente, precisamos arregaçar as mangas, deixar diferenças políticas de lado e trabalharmos juntos para torná-la realidade”, afirmou Roberto Andrade ao conclamar as lideranças políticas e sociais locais e regionais a pressionar os demais deputados mineiros a aprovarem as emendas. “Não podemos deixar que a descrença ou o cansaço com promessas não realizadas nos desmobilize ou intimide”, concluiu.
Drama regional
Um dos líderes da comissão, o padre Jorge da Mata, da Paróquia Nossa Senhora das Dores, de Dores do Turvo, conta que o principal objetivo do movimento é reunir-se com o governador Fernando Pimentel (PT) e as lideranças políticas envolvidas na causa para relatar a situação caótica dos moradores das cidades por onde passa a rodovia. Fazem parte das ações já realizadas pelo movimento: audiências públicas, reuniões com representantes de governo, manifestações e protestos em vários municípios.
“Tudo que estava à nossa disposição foi feito. Queremos nos reunir com o governador e esperamos uma resposta clara à comissão. Não aguentamos mais esta enrolação”, desabafou o padre. O pároco também lembrou que, nos fóruns regionais realizados pelo Governo de Minas, a MG-280 foi considerada, no eixo Infraestrutura e Logística, prioridade em três edições: Juiz de Fora (05/08/15), Barbacena (13/08/15) e Ponte Nova (02/09/15).
A MG-280 dá acesso da Zona da Mata ao Campo das Vertentes. Por ela, transitam mais de mil veículos por dia que fazem o transporte de pessoas, produtos agrícolas e manufaturados. A região é forte produtora de café, milho, leite, tomate, cachaça e móveis.
Claudinei de Freitas, morador de Paula Cândido e membro da comissão, relata que, no período de chuva, a estrada torna-se intransitável, algumas comunidades ficam isoladas e estudantes, pacientes e produtores rurais são prejudicados. “Imagine uma pessoa que trabalha fora daqui e vem visitar a família em um dia de chuva. Ela não consegue chegar ao destino e tem de voltar para trás, porque é impossível passar de carro ou ônibus por essa estrada”, exemplifica.
Além disso, em dias chuvosos, as ambulâncias têm dificuldade de levar pacientes para atendimento em outros municípios, o transporte escolar não consegue levar os alunos para as aulas, os pontos turísticos deixam de receber visitantes e o escoamento da produção fica parado, ocasionando perdas para os produtores rurais.
Desenvolvimento regional
Segundo estimativas da Prefeitura de Paula Cândido, cerca de mil cidadãos do município trabalham no polo moveleiro de Ubá. Muitos deles mudam-se para perto do local de trabalho, porque a falta de asfalto na MG-280 inviabiliza o tráfego diário de passageiros. Com isso, a economia do município é prejudicada com a perda de massa salarial e investimentos – situação comum a todas as cidades afetadas pela falta de pavimentação. Em janeiro de 2016, por exemplo, a única empresa de ônibus que fazia transporte de passageiros na estrada deixou de operar por falta de condições de tráfego.
Outro prejudicado é o empresário Ivan Filho, dono do laticínio que é o maior empregador de Paula Cândido. Ele disse que, tanto para escoar a produção como para receber matéria-prima, os caminhões precisam dar a volta de Ubá a Viçosa para chegar ao município, o que encarece a produção. Com 98 funcionários, Ivan espera triplicar o número de empregados até 2018, mesmo sem o asfaltamento. “Minha fábrica é a maior produtora de queijo minas frescal do país. Eu poderia ter uma produção muito maior, empregar muito mais gente e gerar muito mais impostos para a cidade se essa rodovia fosse asfaltada”, afirmou.
De acordo com informações do Departamento de Edificações e Estradas de Rodagens de Minas Gerais (DEER-MG), são necessários mais de R$ 70 milhões para pavimentar os dois trechos da rodovia. O projeto de engenharia está pronto, porém faltam recursos para a abertura de licitação das obras. A Comissão Pró-Asfalto promete continuar brigando até o Governo de Minas liberar a verba.
Última reunião
No dia 29 de setembro, lideranças da Comissão Pró-Asfalto estiveram no distrito de Abreus, em Alto Rio Doce, para discutir a pavimentação dos trechos da MG-280 que não estão asfaltados e estratégias de mobilização. Foram chamados para participar do encontro deputados estaduais e federais votados na região. Estiveram presentes o deputado estadual Roberto Andrade (PSB), os deputados federais Rodrigo de Castro (PSDB) e Padre João (PT), além dos prefeitos Dr. Wilson (Alto Rio Doce) e Vandir Valério (Dores do Turvo), e vereadores de diversos municípios da região.
Fonte: Assessoria de Comunicação – Roberto Andrade