Inovação tecnológica pode contribuir para a retomada do desenvolvimento econômico do País.
No quarto e último painel do Ciclo de Debates Retomada do Desenvolvimento Econômico, realizado nesta sexta-feira (4/12/15) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), os palestrantes defenderam maior aproximação entre universidades e empresas, com a participação do governo, por meio de órgãos de fomento à pesquisa. O painel abordou empreendedorismo, inovação e tecnologia.
Na opinião do diretor executivo do Centro de Inovação e Tecnologia (Cetec), José Policarpo Gonçalves de Abreu, é fundamental “consolidar uma ponte de entendimento” entre os dois setores – indústrias e instituições de ensino e pesquisa. Segundo ele, o Brasil é o 13º produtor mundial de boa ciência, mas ocupa a 70ª colocação em inovação “por causa dessa dicotomia entre universidade e empresa”.
O pesquisador destacou que, no Brasil, 90% dos doutores estão na universidade, enquanto nos EUA 80% estão na indústria. “É preciso aproximar o mundo científico do mundo industrial, e o produto que a universidade tem para oferecer é conhecimento”, salientou, acrescentando que “é um absurdo colocar uma tese ou uma patente na prateleira”.
Heber Pereira Neves, gerente de inovação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), observou que na articulação entre governo, empresa e universidade, surgem outros atores da sociedade civil e, nessa interação, há um fomento ao empreendedorismo e à inovação e tecnologia.
Ele explicou que, no mundo, existem três modelos que mapeiam essa interação. No Brasil e na América Latina, a relação entre os três segmentos é fraca. Nos países asiáticos, como Coreia do Sul e Cingapura, predomina o modelo conhecido como “catching up”, em que é maior a relação entre universidade e empresa. No terceiro modelo, a interação é maior entre os três setores. Esse modelo, diz ele, é o que predomina nos Estados Unidos e na Europa. Na avaliação de Neves, em Minas Gerais se observa uma boa articulação entre o governo, as instituições acadêmicas e as lideranças empresariais, por meio da Federação das Indústrias do Estado (Fiemg).
A universidade, hoje, segundo ele, não está mais apenas preocupada com ensino, mas também com pesquisa e extensão, além de ser mais empreendedora e preocupada em transferir conhecimento e tecnologia. Contudo, ele acredita que é necessário investir mais em gestão. “A Fapemig tem boa relação com as empresas, apoiamos também incubadoras de negócios e núcleos de formação tecnológica. Temos bons projetos para desenvolvimento de produtos, mas é preciso investir em gestão”, disse.
Sebrae e BDMG defendem mobilização e desenvolvimento
Ao se apresentar na abertura do painel, a diretora executiva do Sebrae-MG, Maria Carmen Lima Diniz, cobrou a união de esforços para superar a atual crise econômica. “Sem planejamento, somos reféns da urgência. Temos muitas políticas públicas de sucesso e estruturas que promovem o empreendedorismo”, disse, defendendo mais ações mobilizadoras e participativas.
Glaucia Ferreira da Silva, gerente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), observou que em 2015 o banco focou na letra D, de Desenvolvimento, constante do próprio nome. O Estado detém quase 90% de controle do banco, criado em 1962 e hoje presente em mais de 750 municípios mineiros, com 21 clientes em sua carteira ativa. Segundo disse, dos oito mil clientes/ano que procuram a instituição, mais de 70% são pequenas empresas.
A inovação, segundo ela, é um dos focos de atuação do banco, que conta, hoje, com 123 projetos nessa área. “Estamos abertos a financiamentos de inovação para micro, pequenas, médias e grandes empresas. Temos uma estrutura muito boa, nosso desafio é fazê-la funcionar, transformando as ideias em projetos, em fomento à inovação”, concluiu.
Empresários e trabalhadores cobram retomada do crescimento
Pouco antes, no terceiro painel do ciclo de debates, que abordou infraestrutura e energia, os participantes cobraram soluções para os problemas que impedem a retomada do crescimento econômico do País. O vice-presidente regional da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Marcelo Luiz Moreira Veneroso, destacou que, apesar do aumento de 21,9% nas exportações do setor de agosto para setembro deste ano, de um ano para cá houve queda de 7,5%.
Já o conselheiro da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Flávio Roscoe, falou que a defasagem na infraestrutura também pode ser encarada como uma oportunidade, tendo em vista que pode haver boas chances de crescimento para empresas que queiram investir nessa área. Além disso, ele enfatizou que o déficit de infraestrutura prejudica a produtividade do país e eleva os custos de produção.
Por sua vez, o presidente da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB-MG), Marcelino Orozimbo da Rocha, considerou que a solução para a crise econômica atual passa pela superação dos problemas políticos do País. “A questão da eleição do ano passado resultou numa paralisia e temos uma Câmara dos Deputados que não aprecia nada”, disse. Na sua avaliação, os investimentos não serão retomados enquanto não for superada a atual crise política.
O presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Ubiraci Dantas de Oliveira, lembrou que a “base da indústria brasileira são as pequenas e médias empresas, e quando elas entram em crise, os trabalhadores ficam desamparados”.
Deputados atentos aos problemas apresentados
No encerramento do ciclo de debates, o deputado Geraldo Pimenta (PCdoB), disse que a Assembleia está atenta à questão do desenvolvimento no seu dia a dia e que esse ciclo de debates ocorre num momento adequado, quando os deputados estão discutindo a Lei Orçamentária Anual (LOA) e o Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG).
“No momento em que o Brasil vive uma crise política e econômica, vemos que as saídas apontadas passam por mais investimentos em educação, ciência, tecnologia e inovação. Nós, deputados, estamos preocupados com essa questão e apresentando emendas no sentido de incrementar esse setor, visando à retomada do desenvolvimento de Minas e do Brasil”, disse.
O deputado Roberto Andrade (PTN), que presidiu parte dos trabalhos, disse que pediu para estar à frente do debate por ser de Viçosa (Zona da Mata), “uma cidade empreendedora, sede de uma das universidades federais de maior destaque do País”. Ao final, ele agradeceu o presidente da Comissão de Turismo, Indústria, Comércio e Cooperativismo, deputado Antônio Carlos Arantes (PSDB), autor do requerimento para realização do evento, e lembrou que, no próximo ano, a comissão vai passar a se chamar Comissão de Desenvolvimento Econômico.
Fonte: ALMG