Comissão recebe gestores do Comida Di Buteco, Expocachaça e Festival de Tiradentes, entre outros empreendedores.
Aperfeiçoamento da legislação envolvendo a gastronomia, de modo a desburocratizar a atividade, além da criação de políticas públicas que facilitem a atuação dos pequenos produtores e empreendedores. Essas foram as principais reivindicações dos diversos atores do setor, que participaram de audiência pública da Comissão de Turismo, Indústria, Comércio e Cooperativismo da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A reunião foi realizada na tarde desta terça-feira (18), com o objetivo de debater mecanismos de incentivo à gastronomia mineira.
Para o deputado Roberto Andrade, “uma das alternativas para aumentar a taxa de ocupação dos hotéis construídos na Copa do Mundo é aproveitar o que Minas tem de melhor: a sua gastronomia”.
Um dos convidados foi Eduardo Avelar, fundador da Conspiração Gastronômica, entidade que tem como intuito promover, divulgar e preservar a culinária de Minas Gerais. Ele mostrou preocupação com a proteção dos pequenos produtores artesanais, que são, segundo ele, “os grandes preservadores das tradições mineiras e fomentadores da economia”. Segundo Avelar, Minas e o Brasil estão na contramão do que o mundo inteiro vem fazendo com relação aos pequenos produtores. “Estamos desrespeitando centenas de milhares de famílias com uma legislação míope, feita a quatro paredes, com regras injustas”.
Ele advoga que, quando a fiscalização se depara com um produtor artesanal de queijo ou outro produto típico da culinária mineira, deve ter um olhar diferenciado com relação à saúde pública. O empreendedor afirma que os órgãos governamentais não podem dar ao pequeno o mesmo tratamento de uma grande empresa alimentícia. “É uma maneira injusta de tratar a questão. Vamos parar de tratar a bactéria no alimento de forma geral e discutir caso a caso”, postulou ele, ressalvando a importância da fiscalização fitossanitária.
Outro ponto importante para Eduardo Avelar é que seja unificado o conceito de gastronomia mineira por todos os envolvidos na cadeia produtiva. “Algumas coisas só temos em Minas: a história que vem de nossos quintais, de uma galinha caipira, de uma verdura, até de uma cachaça… Não precisamos inventar a roda. Nada melhor que os quintais para definir a gastronomia mineira”, defendeu. Para o estudioso, só com essa unidade conceitual, ainda não encontrada pelos atores do setor, é que a imagem de Minas Gerais poderá ser melhor trabalhada nacional e internacionalmente. “A Espanha conseguiu unir províncias que jogavam bombas umas nas outras por meio da gastronomia”, lembrou.
Também o gastrônomo e proprietário do Centro Culinário, Luiz Eduardo da Silva Maya, avalia que são fundamentais uma nova legislação e políticas públicas para facilitar a vida do pequeno empreendedor. “Outro dia, convidei um pequeno produtor de Ouro Preto para fornecer ‘carne de lata’ para a minha escola de gastronomia. Infelizmente, ele não pôde participar porque fecharam sua pequena indústria, alegando inadequação das questões sanitárias. Logo ele, que realizava um trabalho sério, com sanidade total”, criticou.
Luiz Maya também vê a necessidade de ampliarem-se os espaços para que os pequenos produtores mostrem seus produtos. Ele, que idealizou a feirinha Aproxima, no bairro Cruzeiro, na Capital, afirma que o projeto tem esse objetivo. “Como os pequenos produtores são carentes de eventos e apoio! Temos que dar oportunidades para que os produtos deles cheguem às nossas mesas”, sugeriu.
Outra frente de trabalho empreendida por Maya são os eventos gastronômicos, tanto os promovidos pela sua empresa quanto aqueles dos quais participa, divulgando a culinária mineira. “Daqui a alguns dias, viajamos a Portugal para participar do Peixe Lisboa, maior evento gastronômico do país. É importante continuar as nossas viagens, mostrando Belo Horizonte, Minas Gerais e os nossos produtos”, ressaltou.
Também Ivo Faria, presidente da Associação Mineira de Gastronomia e dono do restaurante Vecchio Sogno, da Capital, criticou a falta de definição da vocação turística de Belo Horizonte: “Você vai a Roma, Miami, Nova Iorque, São Paulo, todas elas têm o mesmo objetivo: turismo e negócios. Gostaria de ver chegar o dia para definir o que Belo Horizonte será, porque nós não sabemos”. Ele advertiu que outras cidades brasileiras estão passando a capital mineira, que era a quarta do Brasil, em termos de gastronomia. “Recife nos tomou o quarto lugar. Outras cidades estão vindo. Belo Horizonte parece que parou”, lamentou.
Ederson Teixeira Campos, consultor empresarial e gastrólogo, solicitou a criação de incentivos governamentais para os pequenos empreendedores e produtores do setor gastronômico. “Precisamos de apoio maior para manutenção dos empreendimentos. O Estado é o nosso grande sócio, que recebe parte do nosso lucro, mas não participa de nossos prejuízos”, registrou. Um dos gargalos citados por ele é o excesso de exigências feitas aos empreendedores. “Na França, os chefs compram dos produtores rurais próximos do local onde fazem os pratos. Aqui não, porque o pequeno produtor não tem nota fiscal e o Estado exige isso”, demonstrou. Para o consultor, é preciso criar mecanismos diferentes da nota fiscal que permitam ao pequeno fornecer produtos aos interessados, o que também possibilitará que ele permaneça no interior.
Fonte: ALMG