Em visitas ao estádio e à Serraria Souza Pinto, deputados avaliam necessidade de ações de fomento ao turismo de eventos.
Deputados alertaram para a necessidade de uma ação mais direta e incisiva do Estado na promoção do turismo de eventos culturais, esportivos e de negócios, com vistas a ocupar a rede hoteleira de Belo Horizonte, que estaria com movimentação insuficiente, o que ameaça a sobreviência do setor. A questão foi apontada durante visitas ao Estádio Jornalista Felipe Drummond, o Mineirinho, e à Serraria Souza Pinto, em Belo Horizonte, realizadas nesta quinta-feira (22/10/15) por membros da Comissão de Turismo, Indústria, Comércio e Cooperativismo da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG),
Requeridas pelo deputado Roberto Andrade (PTN), as vistorias tiveram o propósito de verificar problemas relacionados ao turismo e à rede hoteleira da cidade após a Copa do Mundo, realizada em 2014. Segundo o parlamentar, com a passagem do Mundial pela Capital mineira, houve fortes investimentos em hotelaria e outros serviços voltados ao turismo. Entretanto, faltariam ainda ações para garantir o aproveitamento da estrutura disponível, que tem ficado ociosa e, com isso, colocando empregos em risco.
“O Estado precisa agir de forma mais contundente para promover o turismo de eventos, a fim de atrair um público diversificado e aproveitar toda a estrutura consolidada com a Copa do Mundo, evitando, assim, o fechamento hotéis, que poderá causar falências e desemprego. É preciso promover mais atividades agregadoras de diferentes interesses turísticos, assim como aproveitar melhor os espaços disponíveis”, avaliou o parlamentar.
As duas visitas fazem parte de uma série programada pela comissão, em decorrência de audiência pública realizada no dia 24 de abril deste ano, quando foi debatida a crise do setor hoteleiro da Capital após a Copa. Entre as visitas já concluídas pelos parlamentares estão também as idas ao Prominas, ao Minascentro e ao Aeroporto de Confins.
Mineirinho e Serraria têm realidades opostas
A primeira visita contemplou os espaços interno e externo do Mineirinho, na região da Pampulha. Segundo o superintendente de Gestão de Espaços Esportivos da Secretaria de Estado de Turismo e Esportes, Ricardo Afonso Raso, a área total da construção (54 mil m²) abrange quase o dobro do espaço do Maracanãzinho (no Rio de Janeiro) e quase a mesma do Mineirão. O complexo, que comporta até 17 mil pessoas, abriga um prédio de oito andares – que possui uma área panorâmica voltada para a Lagoa Pampulha que está ociosa -, a arena central e 62 apartamentos/alojamentos, também inativos, além de um estacionamento para 10 mil veículos e um hall principal (ambos também usados em eventos),
O gestor alerta que o ginásio foi inaugurado em 1980, mesmo com as obras inconclusas e, desde então, pouco foi feito para completar o projeto, que estaria com menos de 40% da construção concretizada, mesmo após 35 anos. Para ele, o espaço permitiria um uso muito mais amplo e eficaz. Porém, além da incompletude, a área já concluída também necessita de reformas. Ele lembra que, no ano passado, foi aberta uma licitação para o projeto de reforma geral, mas não houve concorrentes interessados, supostamente devido a desacordo do mercado com relação ao valor ofertado pelo Estado: R$ 1,2 milhão, isto apenas para o projeto. O valor da obra seria avaliado posteriormente, uma vez que isto dependeria de um projeto aprovado.
Em 2016, informou Ricardo Raso, será feita uma reforma estrutural para recuperar a estrutura, mudar a cúpula, impermeabilizar a cobertura e implantar um sistema de captação e reaproveitamento de água. Para esta obra, já foram captados recursos do Ministério dos Esportes da ordem de R$ 10 milhões. O superintendente tem a expectativa de que, ainda no próximo ano, seja reaberto o processo de licitação para o projeto da reforma geral. O orçamento para isto seria entre R$ 900 mil e R$ 1 milhão.
“O Mineirinho tem muitas áreas excelentes, mas pouco aproveitadas. A estrutura é da década de 1980. É preciso fazer um projeto para grandes mudanças, a fim de adequar o espaço à atual realidade. O ideal seria reativar os apartamentos, mas para isso é preciso haver pessoal disponível para fazer a manutenção. Precisaríamos de uma equipe permanente”, avaliou Ricardo Raso.
“Belo Horizonte possui todas as ferramentas necessárias para ser um foco de turismo, desde localização, aeroporto e infraestrutura. O Mineirinho, por exemplo, como pudemos ver, tem um espaço excelente, mas que está subaproveitado. O Estado precisa pensar soluções para usar melhor esses locais. No Mineirinho, talvez uma solução seja estabelecer uma parceria público-privada (PPP), nos mesmos moldes daquela feita no Mineirão”, refletiu o deputado Roberto Andrade.
Desafio é equilibrar eventos culturais e comerciais
Na visita seguinte, à Serraria Souza Pinto, os parlamentares conheceram a realidade bem diferente de numa casa que comporta, no máximo, 4,5 mil pessoas. Segundo o gerente do espaço, Vilmar Pereira de Sousa, a demanda de eventos no local é maior do que a capacidade que a casa possui para atendê-las, e não é por falta de estrutura, mas por excesso de agenda mesmo. Para 2016 já existem diversos já agendados, como a “Casa do Carnaval” – baile em moldes antigos dentro da Serraria e trio elétrico na área do entorno; o Festival Internacional de Quadrinhos, a Convenção Internacional de Tatuagem, a Feira de Agricultura Familiar Agriminas, a Rodada de Negócios, além de eventos de características comercial e particular.
O gestor explica que existem, sim, limitações, como o fato de o prédio ser tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), e não permitir algumas intervenções, e também o tamanho reduzido do estacionamento (apenas 140 vagas). Mas os pontos positivos, como a localização e a estrutura, superam as possíveis falhas. Em 2014, o prédio passou por uma pequena reforma, quando foram feitos ajustes nas partes hidráulica e na elétrica, além de pintura. Os ajustes não contemplados seriam poucos e pontuais e haveria, inclusive, condições de serem concluídos com recursos da própria Fundação Clóvis Salgada, responsável pela administração do espaço.
“Hoje, o ponto primordial de nosso planejamento é conseguir equilibrar a realização de eventos culturais – que são a razão de ser da Serraria, e aqueles de caráter comercial e particular. Formaturas, festas empresariais e algumas feiras são essenciais à nossa arrecadação, mas vinham ganhando muito espaço na agenda. Queremos modificar isto. Pensamos em estimular mais atividades culturais e avaliar a possibilidade de produzi-las internamente”, ressalta Vilmar Pereira, lembrando, inclusive, que o valor cobrado para as atividades de cultura é bem inferior aos de eventos privados.
“A realidade aqui é bem melhor. Foi uma medida acertada do governo reformar e instalar este espaço aqui, numa área da cidade que antes era desprezada e que, com a Serraria, atraiu as pessoas para a região. Porém, esta não é a realidade dos demais espaços da cidade e do Estado. Além disso, a Capital precisa de um local condizente às exigências de grandes eventos internacionais, que nem o Expominas comporta. Belo Horizonte e o Estado precisam avançar no fomento ao turismo de negócios e eventos, precisamos dispor de espaços maiores e mais adequados”, avaliou o presidente da comissão, deputado Antônio Carlos Arantes (PSDB).
Fonte: ALMG