O diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), Marco Antônio Castello Branco, anunciou na última sexta-feira (15), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que o Governo do estado pretende retomar as atividades do Minascentro no segundo semestre de 2018. Na ocasião, o deputado Roberto Andrade (PSB), presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico, defendeu que tanto o Minascentro como o Expominas sejam repassados para a iniciativa privada.
Roberto Andrade disse concordar com a intenção do estado de ceder o Minascentro e o Expominas ao setor privado, frisando que a crise econômica pode ser uma oportunidade para reforçar o papel de Belo Horizonte como centro do turismo de negócios.
O fechamento do centro de convenções em Belo Horizonte, para reformas, deve se iniciar em outubro e acarretar o cancelamento de diversos eventos, o que está preocupando empresários do setor turístico. Para buscar soluções, foi organizada uma reunião conjunta das Comissões de Assuntos Municipais e de Desenvolvimento Econômico.
Apesar de os empresários temerem inicialmente o fechamento por até dois anos, o anúncio do dirigente da Codemig pouco aliviou as suas preocupações. A reunião transformou-se em uma guerra de argumentos para atribuir responsabilidades pelos prejuízos que a situação deve trazer para o setor turístico em Belo Horizonte.
A presidente da Associação Brasileira da Indústria dos Hotéis em Minas Gerais, Érica Drumond, alertou que 20 hotéis foram fechados na Capital desde o ano passado. “São 1,5 mil empregos diretos perdidos”, afirmou ela, prevendo que o fechamento do Minascentro pode agravar a situação.
A reivindicação dos empresários mineiros é de que o espaço seja reformado sem paralisar totalmente suas atividades.
Reforma do Minascentro não pode ser adiada
Castello Branco exibiu imagens de cabos elétricos expostos, telhado em mau estado e cadeiras danificadas no Minascentro. “O Minascentro está caindo aos pedaços”, afirmou. Ele foi taxativo ao dizer que não se pode mais adiar a reforma e que o Corpo de Bombeiros já advertiu que poderá interditar as instalações se a situação não for corrigida.
O presidente da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), Carlos Alberto Xaulim, disse que faltou planejamento do governo, de forma a evitar a perda de tantos eventos programados.
O diretor-presidente da Codemig, por outro lado, argumentou que a intenção do governo não era reformar o Minascentro, mas repassá-lo para o setor privado, por meio de concessão. Com esse objetivo, foram realizadas duas licitações, uma apenas para o Minascentro e depois outra incluindo também o Expominas. Em ambas, não houve interesse dos investidores.
No caso da primeira licitação, a principal exigência do governo era de que os concessionários investissem um mínimo de R$ 15 milhões para reformas nos equipamentos de ar-condicionado, infraestrutura elétrica, telhado e cadeiras. Justamente essa reforma que vai ser assumida agora pelo governo.
O gasto, segundo o diretor-presidente da Codemig, reforça um histórico de prejuízos gerados pelo Minascentro. De acordo com uma planilha apresentada, foram raros os anos em que o espaço gerou lucro para o estado, totalizando mais de R$ 41 milhões de prejuízos acumulados.
Empresários e governo divergem sobre licitação
Os empresários, no entanto, rejeitaram o argumento do prejuízo como justificativa para a concessão do Minascentro. “Isso (o Minascentro) foi feito para dar lucro para o estado? Na Bahia, o governo dá o espaço de graça”, afirmou o empresário Paulo Boechat, ex-presidente do Brazil Convention and Visitors Bureau.
De acordo com seus argumentos, o retorno para o estado vem por meio dos impostos e empregos gerados pelos empreendimentos turísticos, pensamento que foi reforçado por Érica Drumond.
Em resposta a Boechat, Castello Branco disse que a Codemig, mesmo sendo uma empresa pública, está obrigada por seus regulamentos a apresentar resultado positivo, uma vez que opera com recursos públicos. “Talvez o fracasso das licitações se explique porque existe essa visão de que o espaço deve ser de graça”, afirmou o diretor-presidente da Codemig.
O empresário Carlos Alberto Xaulim afirmou, no entanto, que os valores propostos pelo estado estão acima do que a iniciativa privada considera viável em uma parceria público-privada.
Líder do governo vê perigo de uma tragédia
O líder de Governo na Assembleia, deputado Durval Ângelo (PT), advertiu que não se pode abrir mão da reforma, sob o risco de que uma próxima audiência pública venha a discutir responsabilidades sobre mortes ocorridas nos centros de convenções. Para reforçar seu argumento, lembrou a tragédia da boate Kiss, no Rio Grande do Sul, que matou centenas de pessoas.
Em resposta a um questionamento do deputado Fred Costa (PEN), Castello Branco afirmou que está em estudo a utilização de parte do primeiro pavimento do Minascentro e do Salão Ouro para a instalação de um museu ou atração cultural. O argumento é que esses dois espaços apresentam uma ocupação de 24% a 33%, inferior ao necessário. Castello Branco ressalvou, no entanto, que ainda não há uma decisão a respeito.
Érica Drumond criticou a ideia do museu e afirmou que, se não há ocupação, é porque há deficiência na captação de eventos. O argumento foi respondido pelo deputado Roberto Andrade. “Captação de eventos é papel de entidades e do setor privado, e talvez ela seja fraca por causa do mau estado das instalações”, disse o parlamentar.
O secretário de Estado de Turismo, Ricardo Faria, salientou que o governo tem se esforçado para dialogar com o setor turístico, procurando dinamizá-lo por meio de iniciativas como a revitalização da Rodoviária de Belo Horizonte, atração de investimentos e apoio a grandes eventos, como o carnaval.
Nesse sentido, para tentar superar o impasse entre empresários e autoridades estaduais, o deputado Fred Costa propôs que o debate continue por meio de um grupo menor de representantes de todas as partes.
Fonte: ALMG